O hiperfoco é um estado de concentração/interesse muito peculiar, presente em pessoas com autismo e TDAH. Mas todo mundo tem seus interesses e suas paixões, então, como saber quando se trata de hiperfoco?
É importante destacar que existem muitas formas diferentes de se gostar muito de alguma coisa, cada uma com mecanismos diferentes que fazem com que uma pessoa tenha um grande foco em uma determinada área de interesse ou em determinados personagens e objetos, e não necessariamente todas podem ser chamadas de hiperfoco. Por exemplo, uma criança pode querer jogar videogame o dia inteiro, uma fã pode ficar obcecada por seu ídolo e aprender tudo sobre ele, e mesmo assim essas coisas podem não se caracterizar como hiperfoco.
Definição – afinal, o que é hiperfoco?
Hiperfoco é um termo genérico, que é usado em diversos meios e cenários, mas, falando especificamente do autismo e do TDAH, o hiperfoco é uma espécie de fascínio ou obsessão momentânea. Um interesse tão grande, que nada mais ao redor importa; conversas sobre outros assuntos se tornam insignificantes; pausas para comer, tomar banho ou dormir se tornam incômodas, pois geram um afastamento daquele assunto de interesse. Pode durar horas, dias, semanas, meses ou até anos. Pode surgir de repente, e pode ir embora de repente.
Para além do hiperfoco, existe o interesse, o gostar muito de algo, que é comum a todas as pessoas. Você pode ter muito interesse em determinado assunto ou em determinada coisa, mas ser capaz de se desligar desse tema por algum momento, sem que isso lhe cause um grande incômodo. Inclusive autistas e pessoas com TDAH podem gostar muito de algo, sem que, necessariamente, isso seja um hiperfoco.
Na literatura científica, em um dos poucos estudos voltados para o hiperfoco, ele é definido como “um estado de foco intenso, de qualquer duração... em que há baixa atenção ao mundo ao redor, ignora-se necessidades pessoais, há dificuldade em parar e mudar de tarefa, sensação de total absorção em tarefas e apego a pequenos detalhes” (Hupfeld, Abagis & Shah, 2018 - tradução livre).
Hiperfoco em pessoas com TDAH e autismo
Em pessoas com TDAH, apesar do déficit de atenção característico desse transtorno, pode haver uma concentração muito grande em determinada atividade, a ponto de o indivíduo não ouvir quando é chamado, não prestar atenção a outras coisas ocorrendo em seu campo de visão, não fazer pausas e ficar entretido por bastante tempo. Geralmente, são atividades estimulantes e prazerosas que produzem esse foco intenso.
Em autistas, o interesse não necessariamente está relacionado ao nível de estimulação, o foco pode estar em temas, personagens, objetos ou atividades de qualquer tipo. Uma vez que o hiperfoco se instale, o indivíduo pode querer saber tudo a seu respeito e vai se debruçar sobre o assunto incansavelmente. Um hiperfoco bastante comum em crianças autistas são dinossauros, por isso a foto lá no início do texto.
Prós e contras do hiperfoco
Certo, já sabemos o que é esse tal de hiperfoco, agora, por que isso é importante?
- Contras
Ao ficar extremamente focado em determinado assunto ou atividade, a pessoa pode enfrentar dificuldades para interagir com outras pessoas que não estejam interessadas no mesmo tema ou para desempenhar tarefas obrigatórias importantes, como atividades escolares ou do trabalho.
- Prós
A capacidade de focar intensamente em um determinado tema pode fazer com que o indivíduo desenvolva um conhecimento bastante aprofundado sobre o assunto, o que pode ser muito útil quando transformado em atividade profissional.
Mesmo em casos moderados ou severos de autismo, o hiperfoco pode ser usado para auxiliar no desenvolvimento da comunicação, para colaboração em atividades terapêuticas e na execução de tarefas do dia-a-dia.
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Referência: Living “in the zone”: hyperfocus in adult ADHD – Kathleen E. Hupfeld, Tessa R. Abagis & Priti Shah. 2018