“Autistas não gostam de barulho”, “autistas não olham nos olhos”, “autistas não se interessam por outras pessoas”. É comum esse tipo de afirmação relacionada a autistas. Essas características podem estar presentes em muitas pessoas com autismo, mas não em todas. Essa é uma visão equivocada e estereotipada do transtorno, que pressupõe que todos possuem as mesmas manifestações. Entenda mais sobre esse assunto.
Neurodiversidade no Transtorno do Espectro Autista (TEA)
Primeiramente, temos que entender que o autismo pode estar presente em pessoas com diferentes características de personalidade e, assim, se manifestar de formas diversas. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais em sua quinta edição (DSM-V), uma pessoa com autismo apresenta déficits nos seguintes aspectos: comunicação social e interação social; padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Todos os autistas terão dificuldades nesses aspectos, porém, a forma como isso se manifesta varia de indivíduo para indivíduo.
Além disso, é um transtorno que se manifesta em espectro, com graus que vão de leve a severo, por isso Transtorno do Espectro Autista (TEA). Uma mesma manifestação pode se apresentar em diferentes graus de severidade, por exemplo, a fala pode estar ausente em casos mais severos ou estar presente e funcional em casos mais leves, porém podendo haver dificuldades na comunicação social.
Acompanhe os três casos a seguir para entender melhor essas questões:
- João é autista, tem 15 anos de idade, tem um grande interesse em astronomia, política e gatos, adora conversar com os amigos e fazer longos discursos sobre assuntos do seu interesse. João tem uma estereotipia, ele sempre belisca levemente o próprio braço, principalmente quando está ansioso. Ele adora ouvir música em alto volume e postar vídeos nas redes sociais, onde fala especialmente sobre política.
- Sofia é autista, tem 13 anos de idade, é bastante tímida e fala pouco; tem grande interesse por borboletas, cinema e literatura; tem estereotipias de morder os lábios e fazer movimentos com os dedos das mãos; não suporta barulhos e multidões.
- Pedro é autista, tem 08 anos de idade, ama desenhos da Disney e come sempre o mesmo tipo de comida. Pedro não fala, não olha nos olhos das pessoas e dá a impressão de não ouvir quando falam com ele, toma remédios para dormir à noite e para ficar mais calmo durante o dia, pois é comum apresentar crises em que ele grita muito e se bate.
Identificando semelhanças
Podemos notar, nos casos mencionados, que todos apresentam dificuldades relacionadas aos aspectos de “comunicação social e interação social”, conforme o DSM-5. João gosta de conversar e consegue interagir com seus amigos, porém gosta de falar sempre dos mesmos assuntos, enquanto outras pessoas podem querer falar sobre outros temas. Sofia, por sua vez, apresenta dificuldade para iniciar e manter interações com outras pessoas. Quanto a Pedro, a dificuldade é mais evidente, pois há ausência de fala e dificuldades para se comunicar de outras formas além da fala.
Com relação a “padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades”, João apresenta o comportamento de beliscar o próprio braço, o que se caracteriza como estereotipia, mas que pode estar relacionado à necessidade de estímulo sensorial. Assim como João, Sofia também apresenta algumas estereotipias (morder os lábios e mexer os dedos) e, ainda, incômodo com barulhos. Pedro, por sua vez, apresenta seletividade alimentar, pois se recusa a comer algo diferente do que está acostumado.
Diferenças dentro do espectro
A partir desses casos, pode-se perceber que, mesmo havendo prejuízos nos mesmos aspectos, as manifestações podem ser bastante distintas entre os indivíduos. Se considerarmos o aspecto da sensibilidade, por exemplo, uma pessoa pode ser hipossensível (João gosta de música alta), enquanto a outra pode ser hipersensível (Sofia não suporta barulho).
Considerando as variações de grau de severidade dentro do espectro, podemos perceber uma variedade de características relacionadas à comunicação. Observamos desde a ausência de fala de Pedro, a dificuldade de interação de Sofia, até a dificuldade comunicativa de João, que, embora consiga conversar e interagir com as pessoas, o faz de maneira inadequada socialmente.
Com relação às três afirmativas apresentadas no início do texto, alguns “autistas não gostam de barulho”, já outros não sentem nenhum incômodo com isso; alguns “autistas não olham nos olhos”, outros olham normalmente, e outros, ainda, olham com dificuldade; alguns “autistas não se interessam por outras pessoas”, outros adorariam ter mais amigos, mas não conseguem.
O que podemos concluir?
Em resumo, a mensagem que queremos deixar com este texto é a de que as manifestações do autismo são diferentes em cada pessoa, e, se somarmos a isso fatores como cultura, meio ambiente, educação, relação com a família, comorbidades, interesses particulares etc., as diferenças se amplificam ainda mais. Portanto, jamais use um autista como parâmetro para outro autista, cada pessoa performa de modo diferente na vida. Jamais diga que uma pessoa com autismo leve não parece autista, as dificuldades podem parecer sutis para quem está de fora, mas são intensas para quem as vive. Reforce o que houver de positivo, aceite o que não for prejudicial e busque melhorar aquilo que traz prejuízos, todos somos capazes de progredir.
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*** os nomes das pessoas nos casos aqui apresentados são fictícios.