Não dá pra não falarmos de um tema tão sério (e polêmico) como este: a cura do autismo. De um lado, pessoas que defendem, de outro, pessoas que criticam essa ideia, e, no meio, muita gente sem informações suficientes a respeito. Nosso intuito é informar, esclarecer e agregar elementos a essa discussão.
Imagem em tons de cinza, com o título: "cura para o autismo?". Abaixo e à direita, há uma xícara com vários comprimidos coloridos dentro
O discurso a favor da cura
Aqueles que defendem a ideia da cura do autismo, o fazem por meio de duas correntes principais de pensamento: a de que possa haver uma reversão das características genéticas ligadas ao autismo e a de que, através da eliminação dos comportamentos autistas, o indivíduo sairia do espectro autista.
A cura através da genética
A causa genética é responsável pela imensa maioria dos casos de autismo. Com base nesse conhecimento, alguns pesquisadores buscam, através do estudo dos genes, do desenvolvimento de medicamentos e da manipulação genética, encontrar formas de reverter características que estariam ligadas à expressão do autismo.
Sair do espectro
O autismo é um transtorno que se manifesta em espectro, ou seja, existe uma gama enorme de variações dentro do autismo, com diferentes manifestações, comportamentos e necessidade de suporte que vão de leve a severo, e seu diagnóstico é clínico, baseado nessas manifestações. Por esse motivo, defensores da cura do autismo sugerem que, ao controlar e modificar os comportamentos autistas, o indivíduo já não necessitaria de suporte, o que significaria sair do espectro autista.

Autismo não tem cura
Aqueles que são contra, afirmam que não é possível sair do espectro ou curar o autismo, pois a coibição dos comportamentos autistas não muda a forma como a pessoa sente o mundo e não modifica sua carga genética. Além disso, não se poderia curar o que não é doença.
Do ponto de vista da neurodiversidade, indivíduos autistas devem ser respeitados na sua maneira diversa de funcionar, assim como todos os indivíduos, sejam estes considerados típicos ou não, o que eliminaria até mesmo a necessidade de se buscar uma cura ou normalização dos comportamentos.

Nossa opinião
Não existe um único gene ou um único cromossomo envolvido no autismo, são centenas de genes responsáveis pela sua expressão, o que nos dá uma ideia da grande neurodiversidade envolvida no espectro autista. Mesmo que houvesse a possibilidade de cura, parte dessa neurdiversidade deixaria de existir, ao serem selecionados apenas alguns padrões de funcionamento considerados ideais.
Um conceito importante que queremos destacar a respeito da padronização é o da eugenia. A eugenia foi uma teoria desenvolvida no final do século XIX, que defendia o melhoramento da espécie humana por meio de diferentes estratégias, incluindo o controle de casamentos e da reprodução de pessoas consideradas “indesejáveis”, dentre elas as pessoas com deficiência. A prática da eugenia foi defendida por cientistas e médicos, inclusive no Brasil, e teve seu auge na Alemanha nazista, quando milhares de pessoas com deficiência foram esterilizadas ou exterminadas. Após isso, a eugenia foi muito criticada, mas muitos de seus ideais continuam presentes até hoje e sempre entram no debate ético a respeito de tecnologias reprodutivas e manipulação genética.
De acordo com os defensores da eugenia, haveria um único padrão de indivíduo ideal, e quem estivesse fora desse padrão deveria ser enquadrado nos moldes estabelecidos. Nos dias atuais, essa teoria pode ser relacionada, no contexto da cura do autismo, ao controle sobre os indivíduos com deficiência, resultando em uma visão normalizadora, para que os autistas ajam como pessoas neurotípicas.
Comportamentos que sejam prejudiciais ao indivíduo autista ou às pessoas ao redor podem e devem ser tratados nas diversas terapêuticas existentes, no entanto, quando tentamos conter ou modificar comportamentos apenas para que a pessoa se adeque a um determinado padrão, podemos ter consequências nocivas ao indivíduo, como depressão, ansiedade, sentimento de inadequação ou, em casos mais extremos, o suicídio, uma das maiores causas de morte entre autistas, pois a mudança comportamental não muda o fato de a pessoa ser autista (o funcionamento do organismo continua sendo o mesmo).
Propomos, portanto, que não se busque curar o autismo, mas sim oferecer o suporte adequado a cada caso. Ao se compreender como o indivíduo autista funciona, quais são suas sensações, o motivo de suas crises, quais são as barreiras sociais envolvidas, podemos promover um ambiente favorável à diversidade humana.

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Até o próximo post!
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